quarta-feira, 18 de março de 2015

0,50 centavos de Grécia Antiga: As caixas de papelão e Pandora

Por Jacquelyne Queiroz          

         Carol Lima (estudante do curso de graduação em História da UNEB, Campus XVIII – Eunápolis) indo para o seu trabalho, se deparou com 0,50 centavos de Grécia Antiga bem a sua frente: uma fábrica de caixas de papelão.
Pandora: fábrica de caixas de papelão em Eunápolis (Bahia) 
         Quase todo mundo acaba associando Pandora às caixas e a curiosidade em abri-las. Mas, para falarmos aqui um pouco sobre Pandora, temos que primeiro contarmos a história de Prometeu, pois é praticamente impossível falar sobre um e não mencionar o outro.
Prometeu (que significa pensar antes de fazer) realizou duas ações em que tentou passar Zeus para trás. A primeira foi quando estava à frente do sacrifício de um boi para os deuses e ao dividir a oferenda entregou a carne boa para os mortais e os ossos com gordura para Zeus (Hes., Teogonia, v. 535-557. A segunda vez, se deu quando Prometeu roubou de Zeus o fogo e entregou aos homens (Hes., Teogonia, v. 561-569).
Claro que Zeus se enfureceu e não iria deixar que tal acontecimento passasse sem maiores consequências. Então, em troca do fogo, Zeus enviara “um mal com o qual todos se alegrarão”, mas que no fundo seria uma grande desventura (Hes., O Trabalho e os Dias, v. 53-59).
Sob o comando de Zeus, Hefesto mistura terra e água, moldando à forma e semelhança das belas jovens deusas imortais. Ordenou à Atena que lhe ensinasse a arte da tecelagem e do bordado. À Afrodite, coube dar graciosidade, encanto e desejo. E por último encarregou Hermes de por o espírito cínico e dissimulado no peito da nova criatura. Ainda Hermes lhe atribuiu a fala e um nome: Pandora, porque todos os deuses do Olimpo haviam lhe concedido um dom (Hes., O Trabalho e os dias, v. 60-80).
            A mulher era um ser perigoso, pois com tais características o homem poderia ser facilmente engando pelas palavras e beleza. Ainda em outro trecho da Teogonia, Hesíodo nos conta que a mulher só é companheira dos homens enquanto existe luxo e que procuram fugir quando vem a pobreza (Hes., Teogonia, v. 591-593).
            Zeus afirma que através da mulher ele criou o belo mal. Nossa! Só para recapitular: as mulheres perante a mitologia grega são mentirosas, ardilosas, teimosas, curiosas, interesseiras, fofoqueiras e muito bonitas. Elas são a grande desgraça e maldição dos homens.
            Pandora foi entregue como presente a Epimeteu (irmão de Prometeu e seu nome significa aquele que pensa depois de fazer). Ele muito se alegrou em receber o presente de Zeus, porém não sabia que lhe estava reservado. Epimeteu possuia em sua casa um jarro em que guardava alguns artigos malignos de que não se utilizava. Apesar de ser advertida para não mexer no recipiente, Pandora tomada por uma imensa curiosidade, destampa a jarra e dela saiu as pestes, as guerras, a fome, o trabalho e outros males, só restando no fundo da jarra a Esperança (por vontade de Zeus, caso contrário até essa tinha escapado) (Hes., Trabalho e os Dias, v. 90-99).
            Em Eunápolis (Bahia) existe uma fábrica de caixas de papelão feitas por encomenda denominada Pandora (ver imagem acima). Adorei o nome da fábrica. Mas a tradução de alguns escritos antigos quando falam acerca de Pandora, não mencionam a palavra caixa, mas sim o termo jarra. Os vasos de cerâmica eram utilizados para praticamente tudo na Grécia Antiga, a sua utilidade variava bastante, pois serviam para adornar os ambientes, guardar alimentos e até serem usadas como urnas fúnebres. Acredito que a imagem de Pandora passa a ser associada à caixa com mais força a partir do Renascimento cultural, através da releitura do mito nas telas de artistas famosos do período, pois sempre ela parece ao lado de uma caixa.
             No mito de Pandora, as desgraças da humanidade são atribuídas às mulheres. Mas, acontecimentos ruins também foram atribuídos à curiosidade dos homens, por exemplo, a Odisseia menciona que os marinheiros por curiosidade, abriram o saco feito de couro que o deus Éolo entregou a Odisseu, saindo de lá uma ventania tão forte que os fez se afastar ainda mais de seu destino, Ítaca (Odisseia, X, 17-49). Isso influenciou diretamente no fato de Odisseu só conseguir retornar ao seu lar 10 anos depois.
            Sendo caixa ou jarra, o ser humano é tomado pela curiosidade ao se ver diante de uma. Até nos dias atuais, são pouquíssimas as pessoas que obedecem sem hesitar ao seguinte comando: Tome essa caixa e guarde, sem olhar o que tem dentro!
Eu reconheço que não hesitaria e na primeira oportunidade abriria a caixa. Se eu não resisto, por que Pandora resistiria? Por isso eu compreendo a atitude de Pandora e não a condeno mais. E você, seria forte o suficiente e hesitaria em não abrir uma caixa que está em suas mãos? Eu respondo essa questão parafraseando Jesus: Então, quem não tiver curiosidade que atire a primeira pedra em Pandora.

Obs.: Se você quiser contribuir com 0,50 centavos de Grécia Antiga é só enviar uma foto para o em-mail jacquelynequeiroz@gmail.com que contamos a sua história aqui.

HESÍODO. Teogonia: A origem dos deuses. Tradução e notas de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995.
HESÍODO. Trabalho e os Dias. In: ______. Teogonia/Trabalho e os Dias. Tradução de Sueli Maria Regino. São Paulo: Martin Claret, 2010.
HOMERO. Odisseia (Versão bilíngue). Tradução, posfácio e notas de Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34, 2012.

domingo, 15 de março de 2015

Diário de Jack: A chinesa Mei e o estranhamento cultural.

           Acho que vai virar tradição me vestir com elementos de outra cultura para dar início ao assunto estranhamento cultural no 1º ano do Ensino Médio (Colégio São Jorge dos Ilhéus). Em 2015 resolvi me vestir de chinesa. Não temi como no ano passado os alunos não me estranharem, pois termos em nossa cidade contato com orientais através do comércio. Ou seja, o que eu vesti poderia ser facilmente adquirido por qualquer um em algumas lojas de Ilhéus.
            O estranhamento cultural ocorreria através surpresa, pois estaria vestida de chinesa (sem aviso prévio) e entraria em sala de aula como se nada estivesse acontecendo. Foi fácil me caracterizar: Uma peruca, um qipao (vestido vermelho tradicional chinês), um guarda sol, sapatilhas pretas e leque.
            Acredito que atingi meu objetivo, pois a primeira carinha que os alunos fizeram ao me verem na porta da sala foi de estranhamento. Claro que segundo depois vieram a euforia, as risadas e a curiosidade.
Mei e os alunos do 1º ano A/2015.

Mei e os alunos do 1ª ano B/2015.

Expliquei a turma que me chamava Mei e que tinha vindo diretamente da China para falar um pouco da cultura de meu pais. O momento foi um misto de atenção, risadas (de novo), perguntas e anotações. Nesse clima pude então com facilidade relacionar o comportamento da turma ao estranhamento cultural sempre presente em nosso cotidiano.


O mar de Xica da Silva


Ao analisarmos o trecho da telenovela Xica da Silva (1996) podemos perceber algum tipo de mobilidade social durante o ciclo do ouro no período colonial brasileiro? (Responda em seu caderno).

Click na Imagem ou click aqui: https://www.youtube.com/watch?v=p-M-hoMtAl8

sábado, 14 de março de 2015

Diário de Jack: Súditos recebem a visita da rainha Jacquelyne III.

        Acredito que quando falamos em sala de aula do poder dos reis e das rainhas da Europa no século XVII tudo parece muito distante de nossa realidade. Por isso pensei em uma forma dos alunos sentirem um pouco o peso da autoridade divina e inquestionável dos reis. Então resolvi entrar em sala de aula utilizando alguns elementos reais para introduzir o assunto Absolutismo.
            Foi tudo muito simples: utilizei somente uma capa vermelha, uma coroa dourada e uma vassoura. Ao entrar na sala falei que eu me chamava Jacquelyne III do reino da Sala da Sétima Série e que eles (os alunos) eram os meus súditos. Logo em seguida pedi que um aluno levasse o meu material até a mesa, outro aluno segurasse a minha capa real durante a aula e um terceiro aluno que passasse a vassoura no lugar onde eu passaria. Todos ficaram eufóricos e queriam participar da brincadeira.
                               Alunos da 7ª série/8º ano do Colégio São Jorge dos Ilhéus 2015.

                                          Maria Cristina - Varredora real (de mentirinha).

Ainda durante a aula distribui títulos de nobreza e deleguei cargos (escrivão real e apagador de quadros real). Criei “leis malucas” e os meus súditos me obedeceram sem contestação (apesar da quantidade de risos que as leis provocavam). Expliquei sobre a indumentária real e o papel de Luís XIV de ter a iniciativa em associar a sua imagem ao poder, criando elementos do vestuário e comportamentos que facilitassem a sua identificação/distinção enquanto rei.
O feedback foi positivo: alunos curiosos, atentos, animados e cheios de perguntas. Gostei muito da experiência.