quarta-feira, 20 de maio de 2015

0,50 centavos de Grécia Antiga: O Pégaso que me deu trabalho

         Por Jacquelyne Queiroz

          Viajando para o Espírito Santo, peguei um voo com conexão em Brasília de cinco horas. O que fazer para acabar com o tédio em um aeroporto gigantesco? Andar, futucar o que tem nas lojas e ver o que tem por aí. E assim comecei a minha andança no aeroporto para matar o tempo. Até que me deparei em uma loja de departamento com 0,50 centavos de Grécia Antiga bem diante de meus olhos.

Fiquei louca por esse pônei alado e ainda mais por ser azul, cor preferida de minha filha. Pensei logo em comprá-lo para presenteá-la. Mas refleti um pouco e pensei que no Espírito Santo poderia encontrá-lo com o valor mais em conta. Apesar de só ter um Pégaso azul nessa loja do aeroporto resolvi arriscar e comprá-lo no Espírito Santo.
       Durante o voo me lembrei da origem do Pégaso. Perseu queria trazer a cabeça de Medusa para que o rei Polidectes casasse com outra pretendente e deixasse a sua mãe Dânae em paz, pois este vivia “forçando a barra” para casar com ela sem o seu consentimento.
          E assim começou a aventura de Perseu, logo no início de sua jornada ele pediu ajuda a seu pai, Zeus. O deus do relâmpago e do trovão imediatamente ordenou a outros dois deuses que o ajudasse: Hermes, que deu a ele uma espada de diamante para cortar a cabeça da Medusa; e, Atena que entregou-lhe um escudo bem polido que poderia ser feito como espelho.
           Ainda no caminho, Perseu recebeu das ninfas outros apetrechos para ajudá-lo em sua empreitada: um par de sandálias aladas, o capacete de Hades (que o tornava invisível) e um saco mágico para colocar a cabeça da Medusa (STEPHANIDES, 2004, p. 24).
           Segundo Grimal (2010, p. 31), a Medusa tinha um aspecto pavoroso, pois além dos cabelos de serpentes, possuíam o corpo todo de escamas, mãos de bronze, asas de ouro, olhos que faiscavam e quem os olhasse diretamente era transformado em pedra. Mesmo com um aspecto tão horroroso, Poseidon não tinha medo e a deixou grávida.
           Ao chegar ao local indicado, Perseu voou com as sandálias aladas e invisível encontrou as três irmãs Górgonas dormindo. Ele com cautela escolheu a mortal Medusa e com o auxílio do reflexo do escudo, sem olhar para ela, “lhe decapitou o pescoço, surgindo o grande Aurigládio [o gigante Crisaor] e Pégaso” (Hesíodo, Teogonia, v. 280-281).
           Se formos aqui somar dois mais dois, vamos entender que tanto Crisaor quanto Pégaso são filhos de Poseidon. Pégaso também teve algumas participações importantes no mundo heroico, pois além de ajudar Perseu em suas aventuras, ainda auxiliou Belerofonte a matar um mostro marinho. Quando Belerofonte morreu, Pégaso foi morar no Olimpo apesar de ser filho de Poseidon. Não sabemos porque ele preferiu a morar com o tio.
          Vamos voltar ao pônei alado azul da foto. No site oficial da marca, o nome desse brinquedo é Meu Pequeno Pônei Arco-Íris (tradução) e lá tem a informação que ela é um pégaso fêmea. Porém, as narrativas míticas da Grécia Antiga se referem a Pégaso como macho.
 Apesar do brinquedo ser azul e possuir a cabeleira multicolorida, eu não encontrei informações ou maiores descrições (como a cor ou tamanho) nos livros que consultei. Ainda o site oficial do brinquedo nos informa que esse personagem (que faz parte de um desenho animado) tem como símbolo o arco-íris. Só que o arco-íris é a teofanização (manifestação divina) da deusa Íris, divindade responsável pela comunicação. E por que a marca do brinquedo associou Pégaso ao arco-Íris? Vamos chutar?! É por que Pégaso apesar de ser filho do deus do oceano, ele vivia no ar pertinho do arco-íris?! Eis o mistério da fé...
          A questão é que o Pégaso “fêmea” da foto me deu muito trabalho. Pois quem disse que eu achei para comprar em Vitória do Espírito Santo? Corri meio mundo para comprar esse brinquedo e não consegui. A minha esperança estava na viagem de volta, pois teria que passar novamente pelo aeroporto de Brasília.
          Depois de correr, implorar para a vendedora em Brasília procurar comigo o pônei, pedir desconto, ouvir “Já está no preço de à vista”, trazer na bagagem de mão do avião, esconder de uma criança vizinha de poltrona porque os olhinhos dela brilharam quando viram o brinquedo... finalmente encontro minha filha, entrego o Pégaso “fêmea” azul e, e... ela pega o cavalo alado joga longe e prefere a caixa do brinquedo. Poxa!

REFERÊNCIAS:
GRIMAL, Pierre. Mitologia Grega. Porto Alegre, RS: L&PM, 2010.
HESÍODO. Teogonia (Estudo e tradução de Jaa Torrano). São Paulo: Iluminuras, 1995.
PÉGASO. Dicionário de Mitologia Greco-Romana. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
STEPHANIDES, Menelaos. Teseu, Perseu e Outros Mitos. São Paulo: Odysseus, 2004.

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