Por Jacquelyne Queiroz
Em 2010, estava andando nas ruas de Vitória da
Conquista (BA) pesquisando o valor de alguns móveis, quando me deparei com dois
fogões com nome de Ares e Afrodite. Percebi que além de fogo eles também
poderiam facilmente me dar 0,50 Centavos
da Grécia Antiga. Depois pensando melhor compreendi que poderia lucrar um pouco
mais, pois apesar de serem dois fogões, notei que ali haviam três deuses gregos.
Fonte: Acervo pessoal.
Afrodite
era a deusa que oferecia as “dádivas doces aos mortais”, seduzindo e fazendo despertar a paixão (H.H., X, 1-6). Era
ainda a deusa da beleza, pois quando foi apresentada aos demais deuses, ficaram
tão impressionados com o que viram que todos queriam se casar com ela (KERÉNYI,
2015, p. 67). Afrodite utilizava um cinto que continha o desejo e o amor que perturbava
até os mais prudentes (Ilíada, XIV,
214-217).
Ares era o deus da guerra. Ele sempre
encontrava prazer nos combates, nas contendas e nas lutas (Ilíada, V, 890-891). Homero nos diz que Ares era uma figura
gigantesca, pois quando Atena derrubau Ares com uma pedrada e
este tombou, se estendeu ao solo por uma extensão de sete jeiras (700 pés =
213 m) (Ilíada, XXI, 403-409).
Aqui entra a terceira divindade
grega que mesmo sem ter o nome nos fogões percebi a sua presença entre neles: o
deus Hefesto. Deus da metalurgia e do fogo. Muito inteligente e habilidoso,
tinha a sua importância reconhecida entre os imortais. Mas tal fato também não impedia
dele ser alvo de chacota para alguns deuses por ter os pés deformados (BRANDÃO,
1991, p. 138).
Segundo
algumas narrativas, Afrodite era esposa de Hefesto e amante de Ares. Mas Hélio
(o deus Sol), que tudo testemunha e nada passa aos seus olhos, sabia que os
amentes se encontravam às escondias e tratou de alertar Hefesto. Então, o deus
ferreiro criou correntes resistentes, bem finas e quase invisíveis como teias
de aranhas e as prendeu sobre a armação da cama para surpreender os amantes. O
plano de Hefesto foi bem sucedido, pois ao deitarem no leito, Ares e Afrodite
ficaram presos “sem que pudessem mover um só membro” (Odisseia, VIII, 266-320).
A
maioria dos fogões são feitos de ferro e tem como objetivo produzir fogo. Mas,
apesar do deus da metalurgia e do fogo ser Hefesto, os fogões que me deparei nas
lojas de Vitória da Conquista (BA) levavam os nomes de Ares e Afrodite. Na tentativa
de relacionar a função da divindade grega ao objeto, então... o fogão Ares deve
proporcionar refeições que deem coragem para vencer a batalha do dia (ao
enfrentar o transporte público ou passar em uma avaliação difícil), sentir o
calor da guerra do trabalho (ou da escola). Talvez ainda queiram ser tão grandes
como a divindade ou pretendem sentir melhor o gosto do sangue ao cozinharem
galinha ao molho pardo.
Acredito
que os que preferirem adquirir o fogão Afrodite almejam produzir alimentos
cheios do fogo da paixão, abastados de sabores e odores que seduzam facilmente
as pessoas. O seu proprietário se tornará mais bonito(a), sexy e conquistará o seu
amado(a) pelo estômago. Será que esses fogareiros são as novas armaduras de guerra
de Ares e são os cintos da sedução de Afrodite? Na dúvida... é sempre bom
sabermos que além de um fogão poderemos ter uma divindade morando em nossa
cozinha.
REFERÊNCIAS:
BRANDÃO,
Junito de Souza. Mitologia Grega. v.
I. Petrópolis: Vozes, 1991.
HOMERO.
Hinos Homéricos I e do VI ao XXXIII (Versão
bilíngue). Tradução e estudo de Luiz Alberto Machado Cabral. São Paulo:
Odysseus, 2009.
______.
Ilíada (versão bilíngue). v. 2.
Tradução Haroldo de Campos. São Paulo: Arx, 2002.
______.
Ilíada (versão bilíngue). v. I.
Tradução Haroldo de Campos. São Paulo: Arx, 2003.
______.
Odisseia (versão bilíngue).
Tradução, posfácio e notas de Trajano Vieira. São Paulo: 34, 2012.
KERÉNYI,
Karl. A Mitologia dos gregos. v. 1. Petrópolis:
Vozes, 2015.