Por Jacquelyne Queiroz
Viajando
para o Espírito Santo, peguei um voo com conexão em Brasília de cinco horas. O
que fazer para acabar com o tédio em um aeroporto gigantesco? Andar, futucar o
que tem nas lojas e ver o que tem por aí. E assim comecei a minha andança no
aeroporto para matar o tempo. Até que me deparei em uma loja de departamento
com 0,50 centavos de Grécia Antiga bem
diante de meus olhos.
Fiquei louca por esse pônei alado e
ainda mais por ser azul, cor preferida de minha filha. Pensei logo em
comprá-lo para presenteá-la. Mas refleti um pouco e pensei que no Espírito
Santo poderia encontrá-lo com o valor mais em conta. Apesar de só ter um Pégaso
azul nessa loja do aeroporto resolvi arriscar e comprá-lo no Espírito
Santo.
Durante o voo me lembrei da origem
do Pégaso. Perseu queria trazer a cabeça de Medusa para que o rei Polidectes casasse
com outra pretendente e deixasse a sua mãe Dânae em paz, pois este vivia
“forçando a barra” para casar com ela sem o seu consentimento.
E assim começou a aventura de
Perseu, logo no início de sua jornada ele pediu ajuda a seu pai, Zeus. O deus
do relâmpago e do trovão imediatamente ordenou a outros dois deuses que o
ajudasse: Hermes, que deu a ele uma espada de diamante para cortar a cabeça
da Medusa; e, Atena que entregou-lhe um escudo bem polido que poderia ser feito
como espelho.
Ainda no caminho, Perseu recebeu das
ninfas outros apetrechos para ajudá-lo em sua empreitada: um par de sandálias
aladas, o capacete de Hades (que o tornava invisível) e um saco mágico para
colocar a cabeça da Medusa (STEPHANIDES, 2004, p. 24).
Segundo Grimal (2010, p. 31), a
Medusa tinha um aspecto pavoroso, pois além dos cabelos de serpentes, possuíam
o corpo todo de escamas, mãos de bronze, asas de ouro, olhos que faiscavam e
quem os olhasse diretamente era transformado em pedra. Mesmo com um aspecto tão
horroroso, Poseidon não tinha medo e a deixou grávida.
Ao chegar ao local indicado, Perseu
voou com as sandálias aladas e invisível encontrou as três irmãs Górgonas
dormindo. Ele com cautela escolheu a mortal Medusa e com o auxílio do reflexo
do escudo, sem olhar para ela, “lhe decapitou o pescoço, surgindo o grande
Aurigládio [o gigante Crisaor] e Pégaso” (Hesíodo, Teogonia, v. 280-281).
Se formos aqui somar dois mais dois,
vamos entender que tanto Crisaor quanto Pégaso são filhos de Poseidon. Pégaso
também teve algumas participações importantes no mundo heroico, pois além de
ajudar Perseu em suas aventuras, ainda auxiliou Belerofonte a matar um mostro
marinho. Quando Belerofonte morreu, Pégaso foi morar no Olimpo apesar de ser
filho de Poseidon. Não sabemos porque ele preferiu a morar com o tio.
Vamos voltar ao pônei alado azul da
foto. No site oficial da marca, o nome desse brinquedo é Meu Pequeno Pônei
Arco-Íris (tradução) e lá tem a informação que ela é um pégaso fêmea. Porém, as
narrativas míticas da Grécia Antiga se referem a Pégaso como macho.
Apesar do brinquedo ser azul e possuir a
cabeleira multicolorida, eu não encontrei informações ou maiores descrições
(como a cor ou tamanho) nos livros que consultei. Ainda o site oficial do
brinquedo nos informa que esse personagem (que faz parte de um desenho animado)
tem como símbolo o arco-íris. Só que o arco-íris é a teofanização (manifestação
divina) da deusa Íris, divindade responsável pela comunicação. E por que a
marca do brinquedo associou Pégaso ao arco-Íris? Vamos chutar?! É por que
Pégaso apesar de ser filho do deus do oceano, ele vivia no ar pertinho do
arco-íris?! Eis o mistério da fé...
A questão é que o Pégaso “fêmea” da
foto me deu muito trabalho. Pois quem disse que eu achei para comprar em
Vitória do Espírito Santo? Corri meio mundo para comprar esse brinquedo e não
consegui. A minha esperança estava na viagem de volta, pois teria que passar
novamente pelo aeroporto de Brasília.
Depois de correr, implorar para a
vendedora em Brasília procurar comigo o pônei, pedir desconto, ouvir “Já está
no preço de à vista”, trazer na bagagem de mão do avião, esconder de uma criança
vizinha de poltrona porque os olhinhos dela brilharam quando viram o
brinquedo... finalmente encontro minha filha, entrego o Pégaso “fêmea” azul e,
e... ela pega o cavalo alado joga longe e prefere a caixa do brinquedo. Poxa!
REFERÊNCIAS:
GRIMAL,
Pierre. Mitologia Grega. Porto
Alegre, RS: L&PM, 2010.
HESÍODO.
Teogonia (Estudo e tradução de Jaa
Torrano). São Paulo: Iluminuras, 1995.
PÉGASO. Dicionário
de Mitologia Greco-Romana. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
STEPHANIDES,
Menelaos. Teseu, Perseu e Outros Mitos.
São Paulo: Odysseus, 2004.