Por Jacquelyne Queiroz
Fonte: Acervo pessoal.
Quando criança acompanhava meus avós ao
mercado e sempre vi meu avô colocar vários desses sabonetes no carrinho de
compras. Quando chegávamos em casa ele colocava esses sabonetes separados em
uma parte de um cômoda. Toda vez que eu abria as suas gavetas saia de lá um
cheiro gostoso. As gavetas de meu avô estavam cheias de 0,50 centavos de Grécia
Antiga e eu não sabia.
O sabonete que meu avô tanto gosta se chamava
Phebo. Mas, por que um sabonete tem esse nome?
Segundo Hesíodo, Apolo é filho de Zeus com
Leto e tem como irmã gêmea a deusa Artêmis (Hes. Teogonia, v. 918-920). Nasceu na ilha de Delos, onde ficou
escondido com a ajuda de Poseidon, pois Hera o perseguia louca de fúria e
ciúmes. Vamos lembrar que Zeus era casado com Hera e Apolo foi fruto da traição
de Zeus com outra deusa.
Apolo já crescido e não mais perseguido por
Hera, detinha poder e funções. Ele era responsável pelos dias e pelas noites, pois
transportava o carro com o Sol para o alto do céu e depois guardava-o atrás das
montanhas. Uma vez por ano viajava com o carro do Sol para terras distantes e
assim se instalava o inverno na Terra.
Como era o deus da luz ele protegia os
campos, os navegantes e os artistas. Era o deus da alvorada, das profecias, do
princípio do mês e do número sete (regente das revoluções lunares) (OTTO, 2006,
p. 140). Também era um excelente arqueiro e o deus curador por excelência.
Os deuses gregos tinham a natureza dupla,
então Apolo sendo o deus curador é o mesmo que enviava a peste (doença
contagiosa) através das flechas de seu arco quando necessário. Tanto na Ilíada (Ilíada, I, 43-56) quanto na tragédia grega Édipo Rei (Sóf. Édipo Rei,
v. 1-87) os gregos são punidos com uma doença enviada por Apolo, ficando pilhas
e pilhas de cadáveres a espera de serem cremados.
As características de Apolo que são mais
exaltadas e lembradas pela nossa cultura ocidental são: a beleza e a juventude.
Apolo era o deus bonitão da Grécia antiga, sempre era retratado forte, alto,
com os ombros largos, com cabelos ondulados e sem barba (o que para os gregos
era sinal juventude).
A sua vida amorosa não esteve a altura de sua
beleza, pois sempre se dava mal: quando Apolo se apaixonou por Cassandra essa
cuspiu na cara dele (STEPHANIDES, 2000, p. 53), quando ele quis ter uma
coisinha com Jacinto, o deus Éolo com ciúmes provoca um acidente com o rapaz
que vem a falecer (BULFINCH, 2001, p. 83-84) e Dafne preferiu se transformar em
uma árvore do que se entregar ao deus mais bonito de todos (VICTÓRIA, 2000, p.
35).
Na Ilíada
o deus da beleza é chamado de “Febo Apolo” (Iliada,
I, 43). Acredito que Homero acabou de responder a pergunta que fiz no início
dessa postagem. Quem usa o sabonete Phebo talvez se torne parecido com o deus
Apolo, pois vai ficar cheiroso, másculo, robusto, cheiroso de novo e
encantador... ou pelo menos se sentir assim.
Para mim, meu avó que usa esse sabonete há
anos se parece com Febo Apolo, apesar de ser magrinho e franzino. Ele se deu
melhor no amor que o deus da beleza, já que está com minha avó há 54 anos.
REFERÊNCIA:
BULFINCH,
Thomas. O livro de ouro da mitologia:
história de deuses e de deusas. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
DAFNE.
VICTÓRIA, Luiz A. P., Dicionário Básico de Mitologia: Grécia, Roma e Egito. Rio
de Janeiro: Ediouro, 2000.
HESÍODO.
Teogonia. In: ______. Teogonia/Trabalho
e os Dias. Tradução Sueli Maria Regino. São Paulo: Martin Claret, 2010.
HOMERO.
Ilíada. Edição bilíngue. Tradução de
Haroldo de Campos. São Paulo: Arx, 2003.
OTTO.
Walter E. Teofania. São Paulo:
Odysseus, 2006.
SÓFOCLES.
Édipo Rei. Tradução de Paulo Neves.
Porto Alegre: L&PM, 2006.
STEPHANIDES,
Menelaos. Ilíada: A Guerra de Tróia.
São Paulo: Odysseus, 2000.